sábado, 30 de junho de 2007

Aniversário

Aborrecem-me os aniversários
Ainda ontem tinha poucos anos
E hoje juntei à conta os que
desde então passaram.

É um marco, passou um ano
Dum ano, doutro ano, daquele ano,
Desde o outro ano, até ao ano
Em que me fiz humano.

E sinto-me o mesmo que fui ontem
Terei mudado desde há pouco
Estarei a ficar louco?
Sou o mesmo de ontem e anteontem!

Mas então para quê celebrar?
Se a minha carne apodrece
E o meu rosto envelhece.
E todo eu me sinto mirrar.

terça-feira, 26 de junho de 2007

Conversa de jardim

Sentei-me num banco de jardim
À minha frente uma bela vista
A meu lado sentou-se um velho
Barba grande, maltrapilho,
Um boné de andarilho,
Olhar desperto e abatido.
Na mão trazia um livro, velho,
Páginas amarelas, capa preta
E um elástico encardido.

A principio senti-me incomodado
O banco era meu, e a vista só minha
Mas aos poucos senti simpatia
Havia algo nele que conhecia
Seria o aspecto descuidado?
Ou o ar melancólico que tinha?

Perguntei-lhe de onde era,
E da minha cidade disse
Ser, o sitio onde nascera.
Que fazia ou tinha feito?
[perguntei]
Aí sorriu e como se sentisse
A beleza dum momento perfeito
A sua vida me contou.

Tinha visto sete mares
Nadado em seis deles.
Fez dos continentes lares
Vestiu do lobo e cordeiro as peles.

Viajou por países que sabia de nome,
Sabia as capitais, viu obras de renome
E os olhos brilhavam, como brilhavam
Ao falar dos sitios que para trás ficaram.

Era sabido das artes de Engenharia
Computadores e Electrotecnia
Não que não soubesse,
Apenas não mostrava interesse.
Como me disse: "Há sortudos,
Os que fazem o que gostam.
Outros vivem presos, mudos
Para ter o que gostam!"

Perguntei então donde vinha a tristeza
Porque não sorria quando via a beleza
que diante de nós se espreguiçava?
Olhou para baixo, suspirou e disse:
"Nunca tive o que mais queria.
Os feitos, memórias, tudo o mais dava
Para ter nem que fosse por um dia."

E por fim avisou:
"Está na minha hora.
Não te esqueças,
O que vês teu, já eu chamei meu.
Saberás um dia que tu sou eu."
Agora vou embora!

P.S.: Esta é a versão soft.
A verdadeira versão está guardada!

Caneta

Comprei uma caneta
Ponta de metal,
Corpo de plástico,
Risca a vermelho, preto
E o lápis a cinzento.
É só uma caneta,
Bem sei.
Escreve o que quero,
Mostra o que não sei.
Só não sei se escreverei
O fim do desespero.

domingo, 17 de junho de 2007

Machina

Quero que encerrem meu coração
Metam-no numa caixa,
Pequena, fria, baixa.
Deixem-no longe, lá longe
Onde não me tolde a razão.

Coloquem eu seu lugar uma bomba.
De carretos em aço inoxidável,
Uma polegada e caudal formidável.
Maquina limpa, certa e de forma redonda.
Sem desilusões, medos, tremores,
Sem beleza, esperança e tristes Amores.

Façam de mim máquina.
Um autómato funcional
Uma proeza da Era digital
Algo que age de forma automática.
Sem desilusões, medos, tremores,
Sem beleza, esperança e tristes Amores.

Quero viver sem dores,
Sem desilusões, medos, tremores,
Sem beleza, esperança e tristes Amores.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

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Vieste com a alegria da Primavera
Vestida com o calor do Verão
Debroada a ouro e folhas de hera
Foste a minha mais bela ilusão.

"Milagre. Só pode ser!", Pensei.
Uma força para me levantar
Vou sentir o que não sei
Tenho alguém para amar.

E amei, todo o meu ser foi teu.
Por ti, fiz-me alegre poeta.
Fizeste de mim Romeu,
Mas nunca foste Julieta.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Está a chover...

Está a chover!
Que chato.
O engraçado,
É que só chove
Quando olho para baixo.
Quando olho para cima,
A água apenas escorre.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Dança de estações

Chega o Verão
Acabou a Primavera
Começa o calor ao serão
O tempo fresco já era.

E depois vem o Outono
De tons castanhos e amarelos
Árvores despidas por ventos singelos
Dias dolentes cheios de sono.

E o Inverno virá
Como tantas vezes veio
Com o frio que tudo gelará
Faz o Sol brilhar com receio.

E sem se notar. É Primavera.
Borboletas no ar.
Amores a despontar.
E o frio? O frio, esse, já era!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Chatice

Escrevo sempre as mesmas palavras
As palavras são as mesmas sempre que escrevo.
Vira o disco e toca o mesmo.
A mesma música, as mesmas letras.

Que ignorância a minha
De saber o alfabeto
E não dominar o dialecto.
Que ignorância, não saber que a tinha.

Gostava de ter mil palavras
Mil palavras para mim
De uma pincelada de letras
Escrevia o mundo assim:

Mil litros, com mil litros mais
Formam a água, mares e Oceanos,
Inspira pintores, poetas e humanos.
Dá cor à vida de amantes e outros que tais.

De sedimentos, pequenos, grandes, imortais,
Nasceu a Terra, deserta, palete de cores.
De pintores, arquitectos, escultores
Fazem dela palco, luzes, amores irreais.

De desejo e coincidência,
Se fazem amores.
Uns libertos de dores.
Outros sem correspondência.

Mas todos belos,
Únicos sem excepção.
Todos belos,
Vazios de razão.

Mas pelas minhas palavras,
Pintadas duma palete que não tenho,
Não haveria tristezas nem lágrimas.
Não teria esta chatice que tenho!

terça-feira, 5 de junho de 2007

Peço-te...

Pára!
Por favor, pára!
Pára o tempo!
Mata-me o tormento.

Deixa-me ficar,
Neste estado.
Feliz, sem pensar,
Ao teu tronco abraçado.

Deixa-me esquecer.
Pôr atrás das costas
As horas mortas
Sem um amor pra viver.

domingo, 3 de junho de 2007

Caderno

Peguei num caderno,
Construi uma prisão
Celas de papel,
Grades de tinta,
E sentimentos do coração.

Lá os pus todas as minhas dores
Fiz da capa, altos muros
E da contra-capa,
guardador de murmurios.


(talvez inacabado)

sábado, 2 de junho de 2007

Queria Escrever

Queria escrever
Não para mim,
Para alguém.
Não para qualquer
Alguém.
Para uma,
Uma pessoa bastava.

Queria que lesse
O que sinto,
Sentisse o que viu.
E no fim do abraço,
Ver como minha cara
Sorriu.